Todos os desafios de Silva


Em poucas horas Silva subiria no palco do Sesc para sua segunda apresentação em Santos, mas no momento ele estava mais preocupado em aprender a usar a máquina de café que estava no camarim, um item de extrema importância para quem saiu do Espirito Santo rumo a São Paulo para uma bateria de shows."Quando eu viajo pra tocar e acabo não ficando mais alguns dias, minha cabeça acaba ficando muito voltada para o show", comenta Silva, sabendo que assim será sua passagem pela cidade. Mas nem sempre suas viagens são assim, seu último disco, Vista Pro Mar, foi totalmente inspirado depois de uma, Silva estava em uma piscina com seu irmão em um Hotel em Miami quando tiveram o insight que gerou o disco.

Se você acha que sair do Espirito Santo para São Paulo foi a maior correria de Silva está bem enganado, desde que lançou Vista Pro Mar o cantor já rodou diversos países, inclusive a terra do sol nascente. "Eu fui para o Red Bull Music Academy, era meu sonho ir e eu não fui pra fazer um show, então foi informação demais, eu demorei até uns dias pra conseguir processar tudo que eu vi" e as coisas não pararam por aí, o cantor já tem passaporte carimbado para os Estados Unidos e tocará pela primeira vez no país, esse mês, no Texas, isso muito devido a um selo internacional que representa o artista nos Estados Unidos e no Canadá. 

Apesar disso tudo, não é a grande pretensão de Silva acumular fama pelos lugares por onde passa, sua ambição é acima de tudo musical, Silva quer fazer músicas conceituais, que o agradem e também agradem o máximo de pessoas possíveis, uma missão difícil de se conquistar hoje em dia. "Eu sempre vim de um meio mais Indie, que tem muito essa cultura de fez sucesso não é legal mais, tem um pouco disso, tem um ranço dentro dessa cultura underground, que eu fiz parte e já não faço mais tanto. Quando eu fui para o Japão eu participei de um festival que talvez seja uma das coisas mais undergrounds do mundo, mas um underground com dinheiro, só que tem essa coisa da galera querer ser difícil, de fazer música pra poucas pessoas entenderem e eu nunca compartilhei muito disso, pra mim quanto mais pessoas ouvirem e acharem legal melhor".


Em meio a esses shows e essa correria toda Silva ainda consegue achar tempo para compor suas músicas, mas não é tão fácil assim, principalmente porque o músico está sempre buscando inovar na estética de seus trabalhos e isso fica evidente quando comparamos Claridão (2012) e Vista Pro Mar (2014), há uma mudança significativa no conceito dos dois discos. "Leva tempo de um disco pra o outro, no Vista Pro Mar até eu entrar na vibe e tentar entender o que eu tava fazendo, como é que eu queria que o disco soasse, chegar nas referências certas a gente demorou mais ou menos um ano." Todo esse processo deve ser mantido para o próximo disco. "Eu já tenho várias ideias, esboços, não cheguei nem a fazer as primeiras músicas, mas já tenho as referências, a linha que eu vou querer seguir".

Muitas dessas inspirações Silva carrega desde a infância, como por exemplo o violino da música A Visita, que ele conta que estudou desde seus 5 anos de idade, mas que não o usa mais em seus sons. "É uma questão de linguagem, violino foi o instrumento mais importante da história da música desde o século XVI e é um instrumento difícil de você usar sem ficar piegas, eu até pretendo voltar, mas é questão de fase". O que Silva não abandona mesmo são os elementos eletrônicos que fazem parte das suas músicas, referência que o músico também trouxe de tempos atrás "Desde minha adolescência eu sempre fui apaixonado por música eletrônica, eu lembro que eu comecei a baixar softwares, baixei a primeira versão do Reason e adorava ficar brincando no Reason, adorava ficar reproduzindo o que eu ouvia nos discos gringos".

Essa busca por novas referências e novas atualizações é fundamental no processo de criação dos discos de Silva, e o que torna ele em um artista muito diferenciado, que está em constante transformação. "Minha mãe por exemplo toca música barroca, ela é professora da universidade e toca música barroca e eu sempre fiquei perguntando pra ela como que era a música de agora. Eu sempre tive esse questionamento, eu quero mudar, eu não quero ser um artista estático". Esse tipo de característica até pode ser arriscado quando você pensa em manter seu público, mas consegue também garantir que ninguém ficará enjoado de escutar sempre o mesmo som quando ele estiver prestes a lançar um novo trabalho.


Outro desafio de Silva é conseguir escolher suas melhores partes para inspirar seus sons, o artista já demonstrou em seus discos que é o tipo de músico que gosta de falar acima de tudo dos bons sentimentos e em nossa conversa ele se mostrou totalmente contra os artistas que tentam transpor suas piores horas para dentro de seus sons "Eu adoro Brian Eno, é um dos meus heróis musicais, ele sempre foi muito inquieto, muito questionador, mas só que o cara faz música ambiente, ele não tá ali projetando os próprios questionamentos dele e eu me relaciono muito com artistas assim".

Lembra quando falamos da difícil missão que Silva tinha de fazer uma música que agradece o máximo de pessoas possíveis? Bom, em seu show o artista consegue transpor toda sua qualidade dentro de palco e ao meu lado pessoas de todas as idades, todos os sexos, deficientes físicos e visuais e até mesmo pessoas que não conheciam o artista se encantavam pelo show e diziam frases como "Nossa, ele é muito bom", eu acho mais que isso, acho que além de ele ser muito bom, ele é necessário!


Canceriano e, por isso, responsável pelos textos mais dramáticos deste blog. Escreve uns sons, é Social Media e estuda Publicidade na Unisanta. Seu maior sonho é ouvir "Come Fly With Me" de Jetpack.